A doença do espectro da neuromielite óptica (NMOSD) é uma condição rara, por isso talvez você ainda não a conheça.
A NMOSD é uma doença rara autoimune, em que o sistema imunológico é ativado de maneira inadequada, e ataca células e tecidos saudáveis do sistema nervoso central (SNC).¹ Nesse processo, o nervo óptico e a medula espinhal sofrem inflamação por conta de uma astrocitopatia (morte de células do SNC, chamadas astrócitos) e secundariamente perdem a bainha de mielina, camada que recobre e protege os neurônios, em um processo chamado de desmielinização inflamatória.²
Descrita pela primeira vez em 1894, era compreendida como um subtipo de esclerose múltipla até 2004, quando graças ao avanço da ciência médica foram observados autoanticorpos específicos e o envolvimento do sistema complemento.²
Em geral, a NMOSD atinge principalmente mulheres entre 30 e 40 anos, mas pode ocorrer em outras idades e, em menor número, em homens. Há uma prevalência maior entre pessoas afrodescendentes e asiáticas.3-5
A NMOSD pode levar à perda da visão e dos movimentos e, se não tratada, pode ser fatal.² As manifestações ocorrem em surtos recorrentes que podem ser debilitantes e difíceis de recuperar.6 A cada surto, pode haver danos neurológicos irreversíveis, e as chances de deficiência ou morte aumentam.6
A prevalência de NMOSD mundialmente é estimada entre
0,5 e 10 casos a cada 100 mil habitantes8
A prevalência da NMOSD mundialmente é estimada entre 0,5 e 10 casos a cada 100 mil habitantes e varia de acordo com as características étnicas de cada população.8
Não se sabe a prevalência exata no Brasil, mas estudos que avaliaram as capitais São Paulo e Belo Horizonte encontraram uma prevalência de respectivamente 2,1 e 4,52 casos a cada 100 mil habitantes.9,10 Calculando para a atual população dessas cidades,11 estima-se cerca de 258 pessoas com NMOSD na capital paulista e 104 na capital mineira.
A prevalência de NMOSD mundialmente é estimada entre
0,5 e 10 casos a cada 100 mil habitantes8
A maioria dos pacientes são positivos para anticorpos antiaquaporina-4 (AQP-4), o que significa que produzem anticorpos que se ligam à proteína antiaquaporina-4.12,13 Essa ligação ativa o sistema complemento (parte do sistema imunológico) para destruir células do nervo óptico, da medula espinhal e do cérebro.12,13
Assim como em outras doenças autoimunes crônicas e inflamatórias, parece haver fatores genéticos e ambientais envolvidos.14 Alguns pacientes podem apresentar anticorpos para MOG (glicoproteína da mielina de oligodendrócitos).15
O surto inicial costuma ser agressivo e, pela semelhança de sintomas com outras doenças do sistema nervoso central, a NMOSD pode demorar para ser diagnosticada ou pode até ser confundida com outras patologias, como a esclerose múltipla.16,17 No entanto ela pode ser diferenciada pelo exame de sangue para o biomarcador específico da NMOSD, os anticorpos antiaquaporina-4.13,16
Outros exames contribuem para o diagnóstico, como avaliação clínica dos sintomas, ressonância magnética e identificação de padrões da apresentação da doença, como o tamanho e a localização das lesões causadas por danos nos tecidos cerebrais.13,16
Alterações na visão, perda da visão ou da acuidade visual
Fraqueza, formigamento ou dormência no corpo
Paralisia de membros inferiores
Alterações intestinais e urinárias, como incontinência
Mal-estar, vômitos e soluços persistentes
Caso aconteça a inflamação do nervo óptico, a neurite, pode haver cegueira parcial ou completa. Já no caso de inflamação, principalmente na medula espinhal, a mielite, pode ocorrer formigamento nas pernas e/ou braços ou até mesmo paralisia.18
Em cada surto da NMOSD, o paciente corre o risco de danos e perdas irreversíveis, por isso o foco é preveni-los com tratamentos que atuam no sistema imune para evitar a inflamação, a destruição dos canais de anticorpos antiaquaporina-4 e a morte neuronal.6,19
Durante os surtos de NMOSD, o tratamento consiste na terapia intravenosa com corticoides.19
Já na manutenção, o tratamento pode ser feito com medicamentos imunossupressores para reduzir a atividade do sistema imunológico.19 Mais recentemente, tratamentos imunobiológicos com indicações específicas para NMOSD foram aprovados no Brasil.1,15
É importante ressaltar que as terapias de suporte, como a fisioterapia e a psicoterapia, são muito importantes para um melhor prognóstico do paciente com NMOSD.1,15
Quando o primeiro surto ocorre, é comum que o paciente busque primeiro um oftalmologista, que por sua vez o encaminha para um neurologista. No cenário ideal, por ser uma doença rara e autoimune, o tratamento deve ser conduzido por neuroimunologistas.